In defense of the soapbox
Monday, July 31, 2006
  Porque o Método Científico não é Científico
Uma coisa muito comum que eu vejo acontecer quando se discute coisas como Percepção Extra-Sensorial, Criacionismo/Evolucionismo, homeopatia, medicinas alternativas e etc., é que normalmente quem está fazendo o papel do cético pede dados confirmáveis de que o dito fenômeno realmente aconteceu, e que não se tratou simplesmente de wishful thinking. Ao que os defensores das teorias alternativas (alternativas aqui não deve ser interpretado com sentido figurado, mas simplesmente como uma alternativa ao caminho tradicional do conhecimento (não ouso nem dizer ciência)) prontamente dizem que algumas coisas simplesmente não são mensuráveis, e que exigir confirmação de alguns fenômenos se trata de pura teimosia daqueles que querem evidências mais concretas. Dizem, resumidamente, que existem coisas que vão além da alçada da ciência, e além do alcance do Método Científico. Dessa forma, a linha alternativa de pensamento sabota convenientemente as armas mais poderosas da Ciência, que passa a ter que simplesmente abandonar seus argumentos. Eu quero dizer aqui que o Método Científico, em sua maneira mais pura, não tem nada a ver com Ciência em si, e que, a não ser que alguém aqui se oponha a contar (do tipo um, dois, três, quatro, cinco), somar e subtrair, este método pode sim ser aplicado a qualquer situação que se quer averiguar com credibilidade.

Comecemos com o argumento de autoridade, só porque ele é o mais divertido: Carl Sagan já disse uma vez, "Extraordinary claims require extraordinary evidence.". Se ele não tivesse sido um astrônomo, o que ele dizia já teria afetado muito mais gente. Mas como ele se dedicou à ciência, automaticamente tudo o que ele disse tornou-se inválido para os crentes (por crentes leia-se pessoas que acreditam em coisas sem ter as devidas evidências para tal). E não me venham com platonismos do tipo "Mas o que é evidência? O que é verdade?", porque este tipo de argumento, pelo menos nesta discussão, é de grande infantilidade. Para meus propósitos, evidência basta ser uma quantidade grande o suficiente de vezes em que o mesmo fenômeno se repetiu, sob circunstâncias isoladas e controladas.

Vamos, então, ao Método Científico em si, que eu acho que deveria ser renomeado de "Método cuidadoso". Isso porque, a alma do Método Científico consiste em simplesmente tomar muito cuidado, ao fazer observações de coisas que acontecem na natureza, antes de pular para conclusões quanto a sua veracidade/razão. Uma vez vi um documentário no Discovery Channel, em que uma menina de uns 15 anos desenvolveu um experimento muito interessante para testar se um homem que dizia ser capaz de "curar pela aura das mãos" (ele passava as mãos sobre o corpo do doente, sem encostar, e supostamente curava seus males) realmente tinha algum poder especial. Ela pegou um papelão, cortou dois furos por onde passavam as mãos do "médico", e ele ficava sem poder ver suas mãos. Do outro lado da cartela, a menina lançava uma moeda e usava o resultado para colocar sua mão sobre a mão direita ou esquerda do testado. Com a mão levemente acima da dele, a menina pedia para ele dizer sobre qual mão a dela se encontrava. Ela anotava os erros e acertos em um caderno. Depois de algumas centenas de repetições, a menina analisou os resultados no caderno notou que o rapaz acertava em 50% das vezes. Das duas uma: ou ele era um charlatão que simplesmente chutava, ou o poder dele era tão bom quanto ruim. Conclusão: Fosse mentiroso, ou fosse incompetente, o "poder" dele não serve para efetivamente nada.

O que esta menina fez foi quase um meta-experimento, pois além de ser uma demonstração extremamente forte do Método Científico, serviu também para avaliar o próprio Método, pois era simples o bastante para analisarmos cada fase do experimento e mostrarmos sua valia. Primeiramente, é necessário isolar todas as coisas que poderiam enuvear o resultado, como a vontade de se curar dos pacientes, a lábia do curandeiro, e qualquer outro fator subjetivo que possa, intencionalmente ou não, levar a conclusões erradas. Aqui há um ponto muito importante: Vejam que eu não estou dizendo que se curar pela vontade de se curar, ou por acreditar em pessoas, seja algo ruim; eu estou dizendo que não é isso que o curandeiro dizia fazer. Na placa de onde ele trabalhava, provavelmente dizia "CURA PELAS MÃOS", e não "CURA PELA VONTADE DO PACIENTE". Então, temos que tratar de testar as mãos do curandeiro, e não a vontade do paciente.

Uma vez identificada e isolada a claim que queremos testar, vem a parte que os crentes mais "desconfiam" do método: A análise dos resultados. Isso porque todo mundo diz "Não se pode associar um número a tudo", ou "não se pode criar um índice da intensidade das emoções das pessoas". Dizer isso, ainda mais depois de uma educação consistente em todas as áreas do conhecimento, e em alguns casos especificamente em estatística, é uma ingenuidade que eu juro que não consigo compreender. É óbvio que ninguém que se respeite vai dizer "A sua personalidade se define por 67% de amor e 33% de ódio" (apesar que esta simplicidade me parece violentamente parecida com algumas filosofias dualistas, paradoxalmente preferidas pelos seguidores das linhas "alternativas"...). Não é deste tipo de numeração que o Método Científico consiste. Entretanto, se criarmos a seguinte entrevista: "Você ama seu cônjuge atual? S/N", e a fizermos para 3500 homens e 3500 mulheres, poderemos dizer _sim_, e com credibilidade _sim_ que n pessoas amam seus maridos/mulheres, o que representa aproximadamente x por cento das pessoas amostradas. A não ser que algum crente tenha motivos para desconfiar de se contar acontecimentos nos dedos, não há nada de esotérico no Método Científico.

Retomando o exemplo do curandeiro pelas mãos: O que quero dizer no fundo no fundo é o seguinte: Se vocês querem porque querem acreditar no poder deste cara, acreditem na própria ingenuidade de vocês. Acreditem na vontade de vocês de curarem. Mas não acreditem no poder dele de curar pelas mãos, e não, pelo amor de Deus não, digam que o teste da menina não teve valia porque o poder do curandeiro não se presta ao escrutínio. Não se presta ao escrutínio de que? De vendar os olhos dele para que ele tenha que usar suas mãos (o que ele diz ser capaz de usar desde o princípio)? Ou ao escrutínio de uma contagem semelhante em conceito ao que se fazia na primeira série do Ensino Fundamental? Sinceramente, se vocês querem funcionar "além" dos métodos tradicionais, fiquem à vontade. Mas não se enganem. Não é a mão dele que está curando, e não são as ondas de energia (energia esta que convenientemente não pode ser medida, reproduzida, nem sequer "contada") whatever que saem de não sei qual chakhra dele. É o simples e puro desejo de se enganar de vocês que está curando vocês.
 

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