In defense of the soapbox
Monday, October 02, 2006
  Paternalismo é opressão
"If you are not free to choose wrongly and irresponsibly, you are not free at all."
- Jacob Hornberger

Em uma discussão recente que tive sobre a necessidade de legalizar o consumo e a venda de drogas atualmente consideradas ilícitas, me deparei com um argumento que os conservadores costumam utilizar como último refúgio: "é necessário proteger as pessoas delas mesmas". Essa idéia não só é extremamente ofensiva aos meus ideais liberalistas, como também fere princípios naturais de evolução e perpetuação da espécie, além de servir de apoio à maioria das ditaduras que já tivemos a infelicidade de testemunhar no nosso planeta. Sob o pretexto de proteger as pessoas delas mesmas, que outras barbaridades seríamos capazes de cometer? Proibir o automobilismo competitivo, por causa do risco de acidentes? Abolir estudos ligados à radioatividade por causa do perigo que os cientistas correm? Proibir o contato entre membros de sexos opostos, para evitar dores de amor?

Ao cercear a liberdade de escolha de um indivíduo, comete-se o que deveria ser considerado um "crime hediondo primário". Se aceitamos que uma pessoa tem o direito exclusivo e personalíssimo sobre seu corpo e que tal direito é inviolável, qualquer tentativa de ditar o que alguém pode ou não fazer consigo mesmo deve ser considerada uma terrível afronta a esse direito individual. Isso decorre da grande máxima liberal que aprendemos desde pequeninhos, "a minha liberdade termina quando começa a do outro", E NÃO ANTES DISSO. Veja que as duas idéias são consistentes e complementares: qualquer coisa que comprometa a liberdade de outra pessoa deve ser considerada um crime, inclusive a proibição de alguém fazer consigo mesmo qualquer ato que não interfira na liberdade de outro indivíduo. É de grande importância que o leitor esteja ciente de que não estou defendendo o uso das drogas. A minha idéia aqui é defender a liberdade que cada um deve ter de escolher usá-las ou não.

Outro argumento constantemente utilizado pelos que se opõem à legalização de drogas "pesadas" (o quão mais pesadas elas realmente são do que a bebida ou o cigarro?) é a exagerada concepção de que a liberação delas causará um desastre social, de proporções estupendamente épicas, pois todo mundo vai querer experimentar e todos ficarão viciados, levando em última instância ao fim precoce da humanidade como a conhecemos. O fato que esses reacionários costumam menosprezar é a grande atração que qualquer coisa proibida exerce sobre seres humanos normais. Quantos aqui nunca dirigiram acima do limite de velocidade só para contrariar a lei, pra ver o que há de tão extraordinário nisso? Quantos nunca piratearam um programa de computador "só de raiva"? Alguém já ouviu a expressão "o fruto proibido é mais gostoso"? Adão e Eva anyone? A verdade é que as pessoas se sentem perigosamente atraídas pelo que é proibido, desconhecido e condenável. Faz parte da natureza humana e provavelmente é um fato imutável. Ao legalizar as drogas, estaríamos tirando boa parte da "graça" de consumí-las. Eu poderia apostar bastante dinheiro no fato de que a quantidade de covardes que atualmente não têm coragem de subir o morro pra comprar cocaína (que seriam os potenciais consumidores favorecidos pela legalização) não chegaria nem perto da quantidade de rebeldezinhos em busca de auto-afirmação, ou de "caçadores de emoção" que procuram viagens cada vez mais altas (que são os potenciais consumidores de hoje, os quais não se interessariam por algo banal e desistiriam das drogas caso elas fossem legalizadas).

É claro que existiriam pessoas que se interessariam em utilizar drogas de qualquer forma. E é claro que as drogas fazem mal, e, se a dependência não for tratada, acabam levando à morte ou ao isolamento social. Foi por isso que eu mencionei a evolução e a perpetuação da espécie no primeiro parágrafo. Se o consumo de drogas realmente é algo nocivo para a sociedade, nada mais justo do que os consumidores serem punidos pelas suas ações. Essa punição viria justamente do uso dos entorpecentes e das conseqüências decorrentes de tal fato. Se um indivíduo for incapaz de reconhecer o prejuízo que seu vício traz para si e para a sociedade, fica óbvio que ele está inapto ao convívio social. Sob um ponto de vista mais "biológico", podemos dizer que é indesejável que seus genes sejam passados adiante, ou seja, devemos ficar gratos pela redução na chance de ele se reproduzir com sua retirada precoce do gene pool. Parece até provável que a liberação das drogas torne-as desnecessárias no futuro, pois aqueles mais propensos ao consumo seriam vítimas de uma das leis mais básicas da natureza, a sobrevivência do mais apto.

E o que poderia reverter a tendência que algumas pessoas têm de se voltar para o consumo de alucinógenos? Não deveria soar estranho ao leitor se eu mencionar a educação como a única arma que possui alguma chance no combate contra o consumo de drogas. Somente elucidando a população a respeito dos efeitos e conseqüências de um ato é possível orientá-la para uma escolha favorável. Ações educacionais, e até a reabilitação de eventuais consumidores arrependidos, poderiam muito bem ser financiadas pelos impostos que seriam cobrados sobre a venda de entorpecentes legalizados. Mas o importante é que cada indivíduo possua a liberdade para fazer a sua escolha. Afinal, nós não proibimos criancinhas de sair andando por aí com medo de que elas caiam. O que fazemos é segurar suas mãos e orientá-las para que o caminhar seja o mais suave possível. Mas elas só aprenderão a andar com proficiência depois de várias quedas e contratempos.
 
Comments:
Hmmm... eu concordo contigo, de um modo geral, que as pessoas devem ter a liberdade de tomarem decisoes que afetam so a elas mesmas. Eu soh nao seria tao rapido assim a descartar a ideia de "protege-los deles mesmos". Eu _definitivamente_ concordo contigo que a ideia dessa frase eh totalmente absurda, pois ela implica em decidirmos pela outra pessoa o que eh "certo", para dai guiarmos a pessoa nessa direcao. Mas, pelo outro lado da moeda, eu acredito que as pessoas devem passar por uma fase na vida delas em que elas aprendem, com orientacao, e com algumas proibicoes mesmo, a tomarem decisoes sadias no futuro. Claro, isso deve ser feito na infancia, e depois de certa idade, concordo que as pessoas devem ser livres para tomarem as decisoes que elas bem querem. Maas, a questãã que fica eh justamente: que idade eh esta? a legislacao nos garnate alguns direitos aos 18, outros aos 21, mas serah que uma idade planificada assim, pra todo mundo, funciona? complicado...

PS: eu soh acho que tu nao precisa de biologia evolucionista pra defender a liberdade de escolha ;)
 
É, eu ia pedir desculpas aos biólogos de plantão mas acabei esquecendo. Não me culpe, tô recém no capítulo 2 do Selfish Gene :P
 
A biologia evolucionista nao funciona muito bem para esse caso, a nao ser que tu realmente acredite que usar drogas diminui significativamente as chances da pessoa ter filhos antes de morrer. Eu nao só acho que nao diminui, como acho que AUMENTA, porque o cara pode ficar mais propenso a fazer coisas sem pensar :-)

Como o proprio Dawkins diz, temos que tomar MUITO cuidado ao aplicar a teoria do gene egoista diretamente a seres humanos, que sao infinitamente mais complicados (social e culturalmente) do que uma barata ou um urubu. É claro que, bem no fundo, somos todos uns macacos com pouco pêlo, mas, na hora de justificar alguma coisa pela evolucao, todo cuidado é pouco!
 
nunca mais vamos atualizar isso aqui é?
 
Post a Comment



<< Home

ARCHIVES
July 2006 / August 2006 / September 2006 / October 2006 / December 2006 / January 2007 /


Powered by Blogger