In defense of the soapbox
Saturday, January 13, 2007
  Cores
Alguém tem que manter esse blog andando, and it might as well be o único dos três que está de férias mesmo...

Todo mundo já pensou naquele argumento sobre a percepção das cores por pessoas diferentes: "Não tem como saber se eu vejo vermelho da mesma forma que tu vê vermelho". A resposta simples para isso é, obviamente, que o que importa é que a grande maioria das pessoas vai apontar para o mesmo lugar e dizer "Isto é vermelho".

Mas para alguém que não esteja satisfeito quanto a idéia de se "perceber" a cor, pode-se pensar em algumas possibilidades. Por exemplo, se "perceber" for definido pela maneira como as células da retina reagem ao comprimento de onda que é refletido pela superfície da parede vermelha, podemos facilmente pensar em algum exame que compara como as retinas de várias pessoas reagem à cor. A configuração da retina, entretanto, parece até para mim como uma explicação medíocre para a "sensação" da cor, até porque alguém que tenha o nervo óptico danificado não vai perceber o vermelho normalmente, mas a sua retina pode muito bem reagir da mesma forma que a dos outros.

Uma aproximação mais interessante pode ser interpretar os impulsos elétricos que passam pelo nervo óptico. Da mesma forma, é viável definir algum teste que possa observar e comparar como os impulsos atravessam o nervo de diferentes pessoas, e ver se é igual. Esta idéia já soa mais interessante, mas ainda me parece ingênua, pois existe muito processamento do sinal que vem do nervo, então a informação pura pode não representar a sensação da cor.

Andando mais para dentro do crânio, começam a aparecer as regiões do cérebro que "reagem" à informação que vem do nervo óptico. Podemos imaginar, como uma hipótese promissora, que em algum lugar do cérebro há um "mapa" de neurônios que se configuram conforme o que a gente vê (por exemplo, uma região espacial do cérebro que poderia ser excitada em quadrados entrelaçados quando enxergamos um tabuleiro de xadrez). Incidentalmente, experimentos em macacos mostram que provavelmente existe uma região do cérebro que faz algo semelhante a isso. Comparar estes "mapas" de pessoas diferentes pode dar uma idéia bem melhor da "sensação" de uma determinada cor. Por outro lado, se estes mapas forem simplesmente um mapeamento mesmo do que está no exterior, não adianta nada compará-los, pois é lógico que eles serão iguais, visto que eles mapeiam a mesma única coisa de fora.

Um último passo que podemos propor, e o de longe mais interessante, é o de comparar como o cérebro (ou todo a máquina cognitiva) reage em geral ao impulso da parede. A maneira como o cérebro reage pode ser vista, em última análise, como uma configuração que dirá como o indivíduo vai se comportar diante da cor, e me parece a medida mais promissora de tentar identificar e compara as possivelmente diferentes "sensações" da mesma cor.

Agora, se alguém sistematicamente ficar retraindo a sensação para um nível acima de cada uma das investigações propostas, o que vai acabar acontecendo é que em algum momento a pessoa será forçada a definir a sensação como sendo específicamente algo que não pode ser comparado entre duas pessoas. E aí é evidente que a questão não vai poder ser resolvida, porque nós acabamos de definir a sensação da cor como sendo algo que não se presta à resolução do problema.

O exemplo da percepção de uma determinada cor é pouco importante. Mas a idéia por trás mostra uma coisa muito perigosa, ou pelo menos muito improdutiva. Existem muitas outras questões que são impossíveis de serem respondidas por definição, porque qualquer resposta vai ir contra alguma ou outra definição mal explicada. E isto não é justificativa para não se responder a estas perguntas! O que devemos fazer é tirar esta máscara de definições mal-feitas, e tentarmos responder as perguntas para realmente resolver problemas, e não simplesmente discutir por discutir. Discutir por discutir é inútil e extremamente desagradável

--

O experimento do macaco pode ser encontrado em Pinker, Stephen. How the Mind Works. na edição paperback da Penguin Books, nas páginas 238 - 240. Aliás, todo o capítulo The Mind's Eye é muito interessante, e trata sobre como funciona o mecanismo de visão das pessoas.
 
Comments:
Buenas, estou chegando no segundo capitulo do "how mind works" e agradeço por você ter estragado a "surpresa" de um dos capitulos do livro....

Just kidding..

Pois é, a busca pela "sobrenaturalidade", por explicações etéreas, por como pode ser entendido nesta passagem:
"se alguém sistematicamente ficar retraindo a sensação para um nível acima de cada uma das investigações propostas, o que vai acabar acontecendo é que em algum momento a pessoa será forçada a definir a sensação como sendo específicamente algo que não pode ser comparado entre duas pessoas. "

É algo realmente prejudicial para qualquer discussão e não contribui para que possamos chegar a alguma conclusão sobre o que esta sendo discutido.

E sim, também fico *MUITO* puto da cara com isso!
 
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